Roceiros e mateiros, atenção: a ciência precisa de vocês!

Muitas vezes, temos a impressão de que ciência é algo que só acontece dentro de laboratórios e em universidades, longe da realidade do trabalhador rural. Entretanto, os conhecimentos locais e tradicionais são muito importantes para o sucesso da ciência. Entenda mais sobre isso!

Publicado em 29/01/2020

 

Você sabia que o subprojeto 05 do Projeto Brumadinho UFMG prevê a contratação de mateiros e roceiros, moradores da região, para auxiliar nas atividades de campo? Essa participação será essencial para a abertura dos transectos lineares (ou seja, as trilhas) pelas quais as equipes terão acesso ao local de trabalho. 

Todas as trilhas serão planejadas com antecedência e já estarão abertas antes dos esforços de captura de animais realizados pela equipe. O ideal é que as trilhas não sejam muito largas, apenas o suficiente para que as armadilhas sejam posicionadas. Entretanto, é importante que estejam bem limpas, para facilitar a visualização de pegadas e outras marcas que os animais provavelmente deixarão ao cruzar por ali.

 

O sub 05 prevê a captura de animais silvestres de diversos táxons (répteis, anfíbios, aves, mamíferos terrestres e quirópteros, mais conhecidos como morcegos) para a coleta não letal de amostras para análise toxicológica, ou seja, os pesquisadores irão instalar armadilhas na mata para capturar diferentes animais e, em seguida, irão colher pequenas quantidades de pelo, penas, sangue, fezes e urina. Esse trabalho será feito com muito cuidado para evitar que os animais se machuquem:  nenhum animal será morto para a coleta dos materiais.

Por isso, é muito importante que o profissional responsável pela abertura das trilhas seja cuidadoso, conheça bem a região e seja capaz de limpar o caminho sem ferir os animais que vivem ali, principalmente porque nas localidades de pesquisa vivem espécies em risco de extinção.

Apesar de terem o conhecimento científico, é muito comum que os pesquisadores não conheçam bem a região de estudo e que não tenham as habilidades técnicas para realizar algumas funções que são essenciais para o andamento das investigações. Enquanto isso, o trabalhador rural, criado na região, é o profissional mais capacitado para executá-las. O exemplo do subprojeto 05 mostra como é importante a união de saberes e habilidades diferentes para que um objetivo comum seja alcançado.

 

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) defendeu, em 2015, a combinação de saberes tradicionais e saberes científicos para a prevenção de desastres ambientais. Naquele ano, a diretora-geral da organização afirmou que não se pode ignorar o conhecimento disponível e que é necessário integrar experiências, onde quer que sejam encontradas. Os conhecimentos locais e as práticas tradicionais dos povos ribeirinhos, indígenas, quilombolas, que costumam ser transmitidos dos pais para os filhos, que são construídos por meio da observação da região ao longo de décadas, são muito importantes para a redução do risco de desastres e para a recuperação de áreas afetadas por eles.

No caso de uma tragédia como o rompimento da barragem em Brumadinho, ocorrido há dois anos, todo o ecossistema envolvido pode ter sido afetado. Quando os rejeitos de mineração atingem um rio como o Paraopeba, o impacto pode afetar regiões distantes do foco do desastre, e as primeiras pessoas a sentir a mudança em suas vidas são aqueles que vivem às margens do rio e dependem dele. Por isso, a participação da população é fundamental para o sucesso do subprojeto 05, para todo o Projeto Brumadinho UFMG e para a preservação da natureza como a conhecemos.

 

Veja imagens dos subprojetos da veterinária em campo!